FORMAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS OPIÓIDES
Do site:  http://www.clinicaberenicewilkeblanes.med.br/
Os peptídeos atuam como reguladores ou como moléculas sinalizadoras que afetam uma variedade de sistemas de neurotransmissores que regulam o comportamento. Em 1979, Dr. Jaak Panksepp , sugeriu que peptídeos incompletamente digeridos, que após absorvidos passariam a ter atividade opióide, poderiam ser os causadores do autismo, dando início a teoria do “Excesso de Opióides” como causadora ou agravadora do autismo (4,5,6).
Em 1981, Reichelt e colegas  encontraram peptídeos anormais com atividade opióide na urina de 22 de 25 autistas estudados. Outros estudos corroboraram estes resultados (7,8,9,10).  Entretanto, a teoria da agressão cerebral pelas substâncias opióides ainda é muito controversa porque outros autores não encontraram as substâncias opióides na urina de crianças autistas, e alguns estudos relatam a presença destas substâncias em pessoas não. Embora muitos autores tenham encontrado essas substâncias opióides na urina de crianças autistas, Cass7 em um estudo publicado em 2008, não encontrou diferenças entre a presença dessas substâncias na urina de crianças autistas e normais (11).
Gillberg mais tarde encontrou níveis excessivos de exorfinas no liquor cefalorraquidiano de autistas. Entretanto, Nagamitsu estudou essas substâncias opióides no liquor de crianças autistas e não constatou nenhuma diferença em relação ao liquor de crianças normais. Deve-se considerar que o espectro autista envolve quadros clínicos muito diferentes e etiologias diversas, o que dificulta muito a comparação dos resultados encontrados( 8,12).
As exorfinas dietéticas são peptídeos produzidos a partir da digestão incompleta da caseína ou do glúten dos alimentos: caseomorfinas, gluteomorfinas e gliadomorfinas - todos com uma poderosa atividade opióide no cérebro.

GLUTEOMORFINA E CASEOMORFINA
A Gliadorfina (ou gluteomorfina) é um peptídeo derivado do glúten e as caseomorfinas do leite. A gliadomorfina é composta de 7 amino ácidos que começam com o sufixo N-terminal tirosina-prolina  e tem a prolina nas posições 4 e 6, como indicado abaixo. As Beta caseomorfinas são peptídeos originários da beta caseina, compostos de 4 a 11 aminoácidos, todos começando com a tirosina na posição N-terminal (13,14) . Mais recentemente, Meisel e Fitzgerald descreveram uma variedade de peptideos que tem função opióide derivados de todos os grupos da caseina (alfa caseina, beta caseina e kappa caseina), e de outras proteinas do leite (alfa lactoalbumina, beta lactoglobulina) e da albumina do soro. As beta caseomorfinas foram as primeiras substâncias com forte poder opióide encontradas no sangue. Elas são degradadas pela dipetidil peptidase IV formando uma mistura de tirosina-prolina, fenilalanina-prolina-glicina, fenilalanina-prolina, e glicina16. Entretanto, as beta caseomorfinas são as mais estáveis em relação a degradação enzimática pela dipeptidil peptidase IV (15).
Dr. Reichelt17 na Noruega, Dr. Cadê18 na Universidade de Flórida, e outros descobriram que amostras de urina de pessoas com autismo, déficit de atenção e hiperatividade, doença celíaca e esquizofrenia continham quantias altas do peptídeo caseomorfina.

MECANISMO DE FORMAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS OPIÓIDES
Alguns autores acreditam que os autistas possam ter uma alteração da permeabilidade intestinal e da capacidade do sistema digestivo de fragmentar corretamente o glútem e a caseína, fazendo com que essas proteínas atravessem a barreira intestinal em cadeias protéicas maiores do que o normal e entrem inteiras na circulação sanguínea. Alguns estudos mostraram que os autistas têm frequentemente uma deficiência ou ausência da enzima digestiva dipeptidil-peptidase IV (DPP IV) que é responsável pela quebra destes peptídeos no intestino18. A enzima DPP IV também é altamente sensível ao mercúrio e aos organofosforados tendo sua função diminuída devido a estas substâncias. A DPP IV fica localizada no mesmo cromossoma 2q7 aonde se localiza um outro gene já associado ao autismo.
Esta dificuldade metabólica congênita ou adquirida pela presença de xenobióticos, pode ser uma das causa do autismo através do aumento da absorção destas exorfinas, conduzindo a reações adversas no cérebro e ao desequilíbrio do sistema imune.
Além disso, frequentemente apresentam um processo de disbiose (desequilíbrio da flora intestinal) com aumento dos fungos e bactérias patogênicas no intestino o que contribui para a lesão da mucosa intestinal e aumento da permeabilidade intestinal.

MECANISMO DE AÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS OPIÓIDES
Essas cadeias peptídicas apresentam uma estrutura e função similar a dos opiáceos, como a morfina e o ópio, e ao atingirem o cérebro reagem com os receptores opiáceos no cérebro, provocando alterações do metabolismo cerebral, como as que ocorrem no cérebro de usuários de morfina, heroína ou ópio, sendo associadas aos distúrbios que ocorrem nos autistas, afetando os lobos temporais e causando dificuldades na fala e na integração da audição. Também promovem outros efeitos, tais como: redução do número de células nervosas do sistema nervoso central e inibição de alguns neurotransmissores.
Existem evidências de que os opióides no cérebro façam um bloqueio dos receptores dopaminérgicos, causando derramamento de dopamina no líquor, ou na urina, predominantemente como ácido homovanílico. Alto teor de dopamina no líquido cefalorraquidiano e/ou de ácido homovanílico na urina é um achado freqüente em subgrupos de crianças com espectro autista, e é um indicador de possível insuficiência do sistema nervoso central de dopamina.

TRATAMENTO VISANDO IMPEDIR A FORMAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS OPIÓIDES
Para diminuir a possibilidade da produção anormal de peptídeos oriundos dos alimentos, a digestão protéica precisa ser melhorada, com a utilização de enzimas digestivas e cloridrato de betaína (HCl). Como a suplementação enzimática não garante a inibição da produção de exorfinas oriundas de caseína e glúten dos alimentos, uma estrita dieta sem caseína e sem glúten é prioritária.
Crianças com autismo freqüentemente parecem viciadas em trigo e produtos derivados do leite, provavelmente aos mecanismos decorrentes do vício causado pelas substâncias opióides.
Portanto, com a eliminação padronizada e controlada dos alimentos que promovem a formação das substâncias opióides na dieta dos autistas, percebe-se melhora significativa na sociabilidade e comunicação destes pacientes, bem como, uma redução dos efeitos de abstinência destes compostos.

TRIGO E LEITE - HIPÓTESE DA FORMAÇÃO DE AUTO ANTICORPOS CONTRA O CÉREBRO
As alterações do sistema imune têm sido longamente estudadas no autismo (20-25). A análise imuno-genética revela que os genes já associados ao lupus e a artrite estão significativamente aumentados nos autistas.  Estudos epidemiológicos têm demonstrado uma maior incidência de doenças autoimunes nos familiares de autistas. A possível autoimunidade no autismo já foi encontrada em estudos científicos que encontraram 9 diferentes antígenos específicos contra neurônios e que tem reação cruzada com proteínas do leite, C. pneumoniae e Streptococcus do grupo A.
Um número significante de crianças autistas desenvolve anticorpos anti estreptoquinase, anti gliadina e anti etil-mercúrio.
Um estudo realizado na Universidade Al Azhar no Egito e publicado em 2006, encontrou um resultado muito interessante quando comparou um grupo de crianças autistas com crianças não autistas. As crianças autistas apresentavam muito mais frequentemente anti corpos IgG contra glúteM e caseína no sangue. Em contrapartida, apresentavam anticorpos IgG contra rubéola (50%), caxumba (73,3%) e sarampo (53,3%) em quantidades inferiores as crianças normais que apresentavam taxas de positividade em 100% para esses três vírus. Além disso, apresentavam uma positividade muito alta de IgG anti citomegalovirus (43,3%) contra (7%) das crianças do grupo controle. Os autores concluíram que existe uma resposta autoimmune contra as proteínas dietéticas e uma deficiência na resposta imune às vacinas contra sarampo, caxumba e rubéola, que pode ser associada ao autismo como causa, fator agravante ou conseqüência do autismo (26).
Um estudo interessantíssimo demonstrou que uma grande porcentagem das crianças autistas apresenta elevação de anticorpos contra a gliadina (do glúten) e contra antígenos do cerebelo, que podem apresentar uma reação cruzada com o cerebelo, o que pode ser uma explicação para os resultados encontrados nas dietas de exclusão do glúten.
Os estudos em crianças autistas têm encontrado alterações inflamatórias intestinais nas biópsias duodenais, ileais e colônicas, aparentemente distintas de outras doenças inflamatórias do cólon. Um estudo demonstrou a existência de uma enterocolite linfocítica de características auto-imunes. Outros autores já demonstraram através da análise histológica da mucosa intestinal um infiltrado eosinofílico que era significantemente menor nas crianças em dieta de exclusão de glútem e de caseína. Neste estudo as alterações linfocíticas não foram afetadas pela dieta (27).
TRIGO E LEITE – ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS
Estudos epidemiológicos também encontraram um aumento dos casos de autismo nas crianças que consomem leite.

TRIGO E LEITE – RESULTADOS ENCONTRADOS COM A DIETA DE EXCLUSÃO
Uma meta análise realizada em 2008, após analisar todos os artigos publicados sobre a dieta de exclusão de trigo e caseína no autismo, encontrou apenas 2 artigos duplo-cego randomizados, incluindo grupos pequenos de crianças, o que impossibilitou a realização da meta análise (28).
Entretanto nos estudos recentes de Adans e Elder os seguintes benefícios foram relatados com a dieta de exclusão do glútem e do leite: melhora dos sintomas gerais do autismo, melhora do isolamento social e melhora da capacidade de comunicação e interação. Outros estudos analisados não demonstraram benefícios. Os estudos que encontraram benefícios nas crianças autistas que seguiram a dieta sem glúten e sem caseína relataram (29,30):
1.      Melhora de alguns sintomas do autismo
2.      Melhora da cognição não verbal
Um estudo realizado por Reichelt analisou 15 autistas de 3 a 17 anos durante um ano após ter implementado a dieta sem glútem e sem caseína. Eles encontraram uma melhora comportamental em 13 das 15 crianças estudadas, sendo que nenhuma criança apresentou uma piora devido a esta restrição. Estes resultados foram obtidos pelo consenso dos pais e educadores da criança (31).
1.      A epilepsia diminuiu em 3 de 4 autistas;
2.      Melhora do comportamento motor em 13 dos 15 autistas;
3.      Melhora do contato social de 10 dos 15 autistas;
4.      Melhora do contato visual de  9 dos 15 autistas;
5.      Diminuição do comportamento ritualistico em 8 dos 11 autistas;
6.      Melhora da linguagem em 10 dos 13 autistas;
7.      Normalização do sono em 9 dos 11 autistas;
Vale salientar que diversas sociedades internacionais, constituídas por pais de autistas, médicos e pesquisadores interessados em autismo recomendam a exclusão do trigo e do leite da dieta.
Em 2008, a “Funded by Research Autism & The Children’s Foundation”, devido a grande insistência dos pais de crianças autistas, deu início aos estudos necessários para iniciar um grande estudo multicêntrico nos USA para verificar a eficiência da dieta livre de glútem e de caseína.
Existe uma dificuldade imensa na realização de estudos científicos para avaliar a eficácia da dieta sem glútem e sem caseína na melhora da criança autista. As principais dificuldades são:
1.      A primeira grande dificuldade é encontrar um grupo grande de pais que aceitem submeter seus filhos a dieta sem glúten e sem caseína para que sua eficácia possa ser comparada com outro grupo de crianças que não sigam a dieta;
2.      Ter certeza que o grupo que aceitou submeter seus filhos autistas a dieta conseguiu fazê-lo, uma vez que as crianças autistas vivem em sociedade, frequentam a escola, festinhas e outras atividades, exigindo muita dedicação e empenho de todas as pessoas que cuidam da criança, para que ela não transgrida a dieta;
3.      Ter certeza de que todos os alimentos oferecidos à criança não contenham de fato glútem e caseína, uma vez que muitos produtos que contém esses nutrientes não trazem a informação no rótulo ou o fazem de forma pouco inteligível;
4.      Constituir os grupos com crianças que eliminem as substâncias opióides derivadas do glúten e da caseína na urina;
5.      Conseguir que as crianças sigam a dieta por um período mínimo de 6 meses para que os resultados possam ser constatados;
6.      Padronizar as técnicas para poder auferir os resultados.
7.      Encontrar grupos de crianças que não sigam outros tratamentos médicos, alternativos ou alopáticos, que possam interferir nos resultados.
Além de todas as questões acima, é importante salientar que as crianças autistas apresentam grandes diferenças entre si, constituindo grupos muito heterogêneos, o que dificulta a avaliação dos resultados.
OUTROS ALIMENTOS A SEREM EXCLUIDOS
RESTRIÇÃO DE AÇÚCAR
O açúcar afeta a flora intestinal contribuindo no processo de desenvolvimento e manutenção de uma disbiose, que é considerada por muitos pesquisadores, como um dos fatores agravantes mais importantes no autismo.
Alguns pesquisadores sugerem que a retirada do açúcar seja feita de forma gradual, lentamente, ao longo de 3 semanas, para evitar o desaparecimento dos sintomas e, em seguida, re-introduzir o açúcar por cinco dias, verificando os sintomas apresentados. Se a criança apresentar uma forte reação adversa a re-introdução do açúcar, o papel do mesmo nesta criança fica comprovado. Mesmo que o aparecimento dos sintomas não seja evidente, a restrição do açúcar pode contribuir com a melhora da flora intestinal.

DIETA SEM CORANTES, ADITIVOS, PRESERVANTES, MONOGLUTAMATO DE SÓDIOE SALICILATOS
As crianças sensíveis aos corantes devem seguir a Dieta de Feingold, que é uma dieta inicialmente concebida para as crianças que apresentam Deficit de Atenção e Hiperatividade e que atualmente tem sido proposta para as crianças do espectro autista. Essa dieta se caracteriza pela exclusão rigorosa de aditivos, corantes, salicilatos e conservantes (32).
O Dr. Benjamin Feingold, pediatra e alergologista, publicou um estudo que foi o marco inicial das pesquisas que demonstraram os efeitos irritativos cerebrais de diversas substâncias sintéticas, como salicilatos naturais e sintéticos, corantes e aditivos alimentares, que passaram a ser associadas como substâncias capazes de desencadear sintomas autísticos, déficit de atenção e hiperatividade, dificuldades escolares, distúrbios do sono, agressividade, além de diversos outros comprometimentos emocionais e comportamentais. As substâncias mais estudadas foram os corantes tartrazina e carmoisine e os preservantes alimentares a base de benzoato (33-35).
É importante salientar, que esses efeitos nocivos não são mediados por IgE. Alguns autores acreditam que um dos mecanismos de ação destes compostos é a liberação de histamina.
Além disso, alguns alimentos contem “salicilatos naturais” que podem também causar efeitos indesejados à saúde em determinadas pessoas. Os salicilatos estão presentes em frutas comuns como maçã, cereja e uva e outros alimentos ou temperos como café, cravo e páprica.
A Associação Feingold sugere que todos os “salicilatos” sejam retirados de uma vez e depois que sejam introduzidos e testados um a um para determinar se acontece alguma reação.
Algumas pessoas preferem eliminar inicialmente da alimentação todos os produtos sintéticos, retirando os salicilatos naturais em um segundo tempo para poder comparar os resultados obtidos.

SENSIBILIDADE A OUTROS ALIMENTOS
Considerando que as crianças com desordens do neurodesenvolvimento freqüentemente têm sensibilidade para alimentos comuns, as crianças autistas aparentemente têm extrema sensibilidade a uma vasta gama de alimentos. Estas sensibilidades podem contribuir para o agravamento de diversas características do autista. Mesmo que os clássicos sintomas alérgicos tais como nariz entupido, eczema, sibilos e prurido possam estar ausentes, a cognição e o comportamento podem estar afetados. Depois que as principais fontes de intolerância alimentar como o glútem e a caseína tenham sido removidos da dieta, outros alimentos podem surgir como fontes dos sintomas. Os pais, especialmente os que anotam os alimentos consumidos diariamente, podem muitas vezes associar ao consumo de determinado alimento pela criança com a deterioração no comportamento, nos padrões de sono, ou de desempenho. A carne de vaca, carne de porco, arroz e batatas estão implicados apenas ocasionalmente. Os alimentos que mais frequentemente são associados à alteração do comportamento são os ovos, tomate, berinjela, abacate, pimenta, soja e milho. Se um determinado alimento é suspeito de causar alterações, deve ser retirado da dieta por um período de experiência de, pelo menos, três semanas para que a sua interferência no quadro clínico apresentado pela criança possa ser verificada. Ao ser re-introduzido na dieta, provavelmente ele irá causar uma exacerbação dos sintomas o que confirma a sua participação na patologia apresentada. ANORMALIDADES GASTRO INTESTINAIS NO AUTISMO
Muitas crianças autistas têm anormalidades gastrintestinais, sendo muito comum a má-digestão, a má absorção, a diarréia crônica, a constipação intestinal, distensão abdominal e a disbiose. A disbiose resulta quase que invariavelmente dos tratamentos antibióticos que são muito comuns no histórico da criança autista.
As alterações da motilidade podem ser explicadas pelas exorfinas que atuam diretamente no trato gastrintestinal. As exorfinas, como as gluteomorfinas (ou gliadomorfina) do glútem e a betacaseomorfina do leite, podem tanto ser absorvidas e manifestar sua ação nociva no cérebro como podem atuar diretamente no intestino afetando a motilidade intestinal.

FUNGOS INTESTINAIS - ÁCIDO TARTÁRICO E ARABINOSE ELEVADOS NA URINA

O ácido tartárico é um composto formado por fungos existentes na flora intestinal alterada. O ácido tartárico é tóxico para os músculos e em quantidades de 12 gramas pode ser fatal para seres humanos.
O ácido tartárico é também extremamente elevado em muitos pacientes com fibromialgia, que têm também dores musculares e nas juntas, na síndrome da fadiga crônica, na esquizofrenia, no transtorno do déficit da atenção, no lupus eritematoso sistêmico, na síndrome do cólon irritável, na colite, na cistite intersticial, na depressão (unipolar e bipolar), na esclerose múltipla, e na infecção de HIV. Todas essas doenças não são causadas por microorganismos gastrintestinais anormais, mas alguns dos sintomas provavelmente são exacerbados por este problema e em muitas destas circunstâncias, é certamente possível que haja uma relação de causa e efeito.
O ácido tartárico é um composto análogo ao ácido málico, que é uma peça chave no ciclo de Krebs, que nos fornece energia. Acredita-se que o ácido tartárico iniba a ação do ácido málico no ciclo de Krebs, diminuindo a produção de energia. Dessa forma, uma suplementação com ácido málico pode suplantar o efeito do ácido tartárico permitindo o funcionamento regular do ciclo de Krebs. É possível que diversos dos metabólitos produzidos pelas leveduras inibam o ciclo de Krebs, e assim a produção de energia das células em geral. Uma grande porcentagem de pacientes com fibromialgia responde favoravelmente ao tratamento com ácido málico.
A arabinose, um outro metabólito produzido pelas leveduras, muitas vezes é encontrado, em quantidades cerca de 40 vezes maior ao limite considerado normal, na urina de crianças autistas. Ela provavelmente reflete uma contaminação do organismo ao invés de apenas uma contaminação intestinal. A arabinose intestinal entra no corpo pelo sistema porta, indo ao fígado onde é transformada em arabitol. Portanto, o achado de arabitose na urina não pode ser oriundo de uma infestação intestinal por cândida. A arabinose liga-se a lisina, a arginina, comprometendo a função destes aminoácidos e das proteínas aonde elas se encontram, inclusive de proteínas responsáveis pela interconexão dos neurônios. Este subproduto da arabinose, lisina e arginina é chamado de pentosidina.
A arabinose inibe a neoglicogênese que é o processo de restabelecer as taxas de glicose sanguíneas quando elas estão baixas, propiciando a hipoglicemia.
Muitos pacientes com fibromialgia têm hipoglicemia significativa. Como o cérebro necessita para seu funcionamento de um aporte constante e em taxas normais de glicose, e utiliza cerca de 70% da glicose produzida pelo organismo para seu adequado funcionamento, a hipoglicemia afeta predominantemente a sua função.
Qualquer droga antifúngica pode ser eficaz, mas a nistatina é uma das mais populares. Praticamente, todas as drogas antifúngicas estão sendo usadas no tratamento do autismo, incluindo o fluconazol (Diflucan), o cetoconazol (Nizoral), e o itraconazol (Sporonox), a terbinafina (Lamisil), e o amfotericina B.
Alguns produtos naturais também tem um poder antifúngico importante, como por exemplo, o alho e o ácido caprílico, que é encontrado na gordura do coco. O ácido caprílico parece ser uma excelente opção para o tratamento dos fungos intestinais, uma vez que é um produto natural e de sabor agradável.
O lactobacillus acidophilus e outras bactérias da flora intestinal normal também podem ter um efeito no controle do aumento dos fungos intestinais.
Além disso, uma diminuição da sacarose alimentar é de grande importância no combate aos fungos. No caso de grandes infestações, as frutas deverão ser oferecidas ao autista separadas dos outros alimentos, para que a digestão seja mais eficiente, não sobrando restos de açúcar no intestino.
Esse desequilíbrio intestinal muitas vezes ocorre pelo tratamento excessivo com antibióticos na primeira infância, que desequilibra a flora intestinal e permite o crescimento dos fungos. Entretanto, muitas vezes apenas um tratamento antibiótico já é suficiente para permitir o crescimento anormal de fungos intestinais.
Na medida em que tanto a incidência precoce, como a alta frequência de infecções de ouvido são associados com a severidade maior de autismo, vale a pena investigar uma conexão entre autismo e leveduras.
Muitas crianças com autismo se desenvolveram normalmente e depois regrediram. Esta regressão é associada frequentemente a ocorrência de sapinho (candidíase bucal) e/ou ao uso freqüente de antibióticos. Esses metabólitos produzidos pelas leveduras intestinais estão também associados além do autismo a outras condições neurológicas como o transtorno invasivo do desenvolvimento, as convulsões, as dificuldades de aprendizagem, ou outros distúrbios de linguagem.
Os fatores que influenciam o desencadear do autismo nestas condições provavelmente incluem os níveis dos produtos tóxicos presentes, como por exemplo, do ácido tartárico, o tempo de duração da exposição a estes produtos, o número de exposições, a idade da criança no momento da exposição e a facilidade ou não do organismo se desintoxicar destas substâncias.
A Cândida é um dos fungos intestinais mais freqüentes, possui proteínas em sua superfície (antígenos) que são semelhantes a muitos tipos de tecidos humanos, podendo ser responsável pelo desencadeamento de uma resposta imune cruzada com a placenta, o ovário, a supra-renal, o timo, o fígado, o pâncreas, a bílis e o cérebro.
Outros fatores modeladores importantes no autismo, e outras doenças relacionadas às levedura são as imunodeficiências, que são muito comuns no autismo e podem também estar presente em outros distúrbios. Alguns indivíduos podem ser tão imunodeficientes, que mesmo uma única exposição antibiótica pode alterar a flora intestinal significativamente. A própria candidíase, dependendo da cepa, pode produzir gliotoxinas, compostos que fragmentam o DNA dos glóbulos brancos do sangue, causando ou agravando a depressão do sistema imunológico.
As toxinas ambientais, também podem ser importantes no enfraquecimento do sistema imunológico.
Algumas vezes, na falha dos tratamentos naturais, é necessário fazer uso de drogas antifúngicas para o controle dos fungos intestinais. Provavelmente isso acontece quando o aporte de açúcar não foi corretamente reduzido, ou quando o sistema imunológico encontra-se enfraquecido.

BACTÉRIAS PATOGÊNICAS NA FLORA INTESTINAL - TIROSINA
Além dos fungos, a presença bactérias patogênicas como as da família dos clostrídios no intestino podem ser responsáveis pelas alterações de comportamento encontradas no autismo36. Essas bactérias produzem derivados anormais da tirosina que podem influenciar o comportamento. Devido à presença dessas bactérias, muitas vezes é necessário fazer um tratamento com metronidazol ou vancomicina seguidos de lactobacillus para normalizar a flora intestinal. A positividade nos imunotestes para o clostridium difficile, um organismo que prolifera com o uso freqüente de antibióticos como a penicillina e a tetraciclina, auxilia no diagnóstico.
Esses metabólitos bacterianos podem causar convulsões e também são encontrados em cerca de 50% dos esquizofrênicos. O ácido tartárico é lesivo para os músculos.
Os lactobacillus acidóphilus podem ser eficazes na redução desses subprodutos anormais, como a tirosina. Se as terapias mais naturais falharem, pode-se usar o metronidazol para reduzir esses subprodutos da tirosina. O Metronidazol deve ser deixado para uma segunda opção devido aos seus efeitos colaterais e pela possibilidade de afetar o equilíbrio ecológico no trato gastrintestinal e causar um crescimento de levedura sem controle. Não existe nenhuma necessidade em erradicar um organismo completamente e sim de restaurar o equilíbrio da flora intestinal, permitindo que as bactérias benéficas voltem a funcionar adequadamente. Entretanto, tratamentos mais agressivos podem ser necessários por curtos períodos de tempo em casos de disbiose microbial mais grave.
A avaliação criteriosa do sistema gastrintestinal precisa ser feita com a pesquisa de má digestão, cultura microbiológica das fezes, que inclui testes para função digestiva (alimentos não digeridos, por exemplo). O coprológico funcional, que inclui testes para avaliar a função digestiva, verificando os alimentos não digeridos, a análise da função metabólica, particularmente dos ácidos graxos de cadeia curta que refletem a atividade probiótica, microbiologia das fezes com cultura fecal e antibiograma, estudo dos fungos fecais, quantidade e tipos com antibiograma e parasitologia.
Bolte37 sugeriu a possibilidade de uma infecção subaguda crônica de
tétano no intestino como uma das causas subjacentes do autismo, em alguns indivíduos. Clostridium tetani é uma bactéria anaeróbica onipresente que é oportunista no intestino e produz uma potente neurotoxina. Esta toxina pode mover-se a partir do intestino para o cérebro através do nervo vago. O tratamento antibiótico deve ser acompanhado por reposição da flora intestinal com probióticos de alta potência.
Finegold38 em 2008 fez uma revisão de todas as evidências que ligam as bactérias intestinais, especialmente o clostridium, que é muito resistente aos agentes antimicrobianos mais comuns: 1- melhora dos sintomas autistas com uso de agentes antimicrobianos, como por exemplo, a vancomicina; 2- Piora do quadro nestas crianças que haviam apresentado uma melhora quando o tratamento com vancomicina é interrompido; 3- O inexplicável aumento dos quadros de autismo nos últimos anos que acompanha o aumento do uso de antibióticos na infância que causam alteração da flora intestinal;  4- O aumento dos casos em pessoas da mesma família, possivelmente devido aos esporos que ficaram no ambiente doméstico.

CORREÇÃO DA HIPERPERMEABILIDADE INTESTINAL NO AUTISMO
O epitélio da superfície luminal da parede do intestino é composta por apenas um pequeno número de células em camadas espessas, tendo como função de absorver nutriente eficientemente agindo também como uma barreira para impedir que outras substâncias do conteúdo intestinal possam entrar na circulação sanguínea. Uma grande variedade de agentes agressores pode aumentar a permeabilidade desta camada.
Estudos realizados em autistas têm demonstrado uma grande frequência de alterações da permeabilidade intestinal. Os estados inflamatórios do intestino geralmente provocam aumento da permeabilidade intestinal, causando deficiências nutricionais. Eles podem ser devidos a alergias ou intolerância alimentar, quadros de infecção, sobrecrescimento da Cândida, parasitas, xenobióticos, substâncias tóxicas e drogas de efeito oxidante ou inflamatório. A aspirina, por exemplo, pode danificar o muco protetor da mucosa intestinal podendo causar alteração da permeabilidade.
O diagnóstico das alterações da permeabilidade intestinal e o seu tratamento devem ser realizados antes de outras condutas para poder beneficiar mais o autista.
Medidas para corrigir a hiperpermeabilidade intestinal incluem a correção de outras anormalidades digestivas, tais como insuficiência pancreática, disbiose, crescimento aumentado de candidíase ou outros fungos, parasitas e assim por diante.
A suplementação com o amino ácido L-glutamina deve ser feita para que se o enterócito se restabeleça.
Para garantir a digestão mais eficiente dos alimentos e, para minimizar a alergenicidade, as enzimas digestivas como a protease, a amilase e a lipase devem ser acrescentadas.
EFEITOS DA SECRETINA NO AUTISMO

Secretina é uma pequena proteína de 27 aminoácidos, que é um hormônio neuropetptídeo normalmente secretado pelas células do trato intestinal alto. Ela é secretada em resposta a entrada dos alimentos no estômago e estimula o pâncreas a liberar bicarbonato, que aumenta o pH intestinal e faz com que as enzimas mais tarde secretadas pelo pâncreas possam trabalhar na sua capacidade ótima.
Ela também estimula a liberação da bile do fígado e da pepsina do estômago. Como os distúrbios gastrintestinais são encontrados em 2/3 dos autistas, o uso da secretina pode trazer um benefício concreto. No rato, foram encontrados receptores para secretina no cérebro e a secretina injetada no cérebro ativou a amídala cerebral.
Em 1998 um pequeno estudo com 3 crianças autistas mostrou que a secretina melhorou de forma impressionante a socialização e a comunicação em paralelo à melhora do trato gastrintestinal. Uma meta análise realizada no ano 2000 concluiu sobre a possibilidade da secretina melhorar 1 em cada 10 crianças autistas. As crianças com quadros severos de autismo responderam melhor a secretina. A melhora foi observada no comportamento, contato visual e na comunicação espontânea. Entretanto, no estudo duplo cego contra placebo conduzido pela indústria do medicamento, a taxa de melhora evidenciada pelos pais não foi tão boa quanto a observada pelos profissionais envolvidos. A melhora foi observada no comportamento, contato visual e na comunicação espontânea.
A secretina pode ser administrada por via oral, EV, IM, transdérmica ou em supositórios. A secretina é segura e com efeitos adversos leves. Atualmente os estudos estão na fase III para aprovação pelo FDA.
Outro hormônio do intestino delgado, a colecistocinina (CCK), funciona de modo similar a secretina. Mas, a deficiência de sulfação encontrada em muitos autistas, pode comprometer sua atividade. Os pais referem que a CCK é eficaz quando tomada por via oral.

CONCLUSÃO
Atualmente, o autismo precisa ser visto como uma doença multifatorial e o tratamento realizado por uma equipe multiprofissional, aonde diversas abordagens precisam ser realizadas com o objetivo de encontrar o melhor caminho para o tratamento.

Origem