quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Bram Cohen - "Meu doce garoto nerd autista"

 
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Hollywood se rende ao criador do Bit Torrent
Guilherme Ravache
Bram Cohen tem síndrome de Asperger. É uma espécie de autismo moderado. Sua mulher, Jenna, refere-se a ele como "meu doce garoto nerd autista". A síndrome o torna uma pessoa introspectiva, com dificuldades de relacionamento. Mas lhe dá uma alta capacidade de concentração. Cohen é capaz de passar horas diante do computador, com toda a atenção voltada para a tarefa daquele momento. Ele não conversa com ninguém. Esquece de comer, até de dormir. "A síndrome me torna menos emotivo quando estou no computador", disse em um de seus três blogs. É possível que ela o tenha ajudado a desenvolver um dos programas mais revolucionários de toda a história da internet, o BitTorrent.
A síndrome também explica por que Cohen tinha dificuldade para trabalhar em equipe. Ele sempre achou que podia escrever programas melhor e mais rapidamente sozinho. Compara-se a Mozart, famoso por compor suas músicas com tanta perfeição que as partituras não continham rasuras - como se tivessem sido ditadas a ele por Deus. Os ex-colegas de Cohen o consideravam arrogante. Ele diz ser arrogante porque sabe que está sempre certo. No fim da década de 90, cansou de escrever programas para empresas ponto.com que nunca saíram do papel. Demitiu-se e, mesmo sem dinheiro, internou-se em casa, decidido a escrever um programa que as pessoas realmente fossem usar. Seria um programa de código aberto, bem democrático.
Conseguiu. O BitTorrent nasceu em 2001. Estima-se que tenha hoje mais de 70 milhões de usuários. Com ele, Cohen mudou para sempre o modo como as pessoas trocam arquivos na internet. Já existiam redes de distribuição de conteúdo, como o Napster e o KaZaA, em que os usuários trocavam música. Mas elas tinham sérias limitações. No Napster, por exemplo, o programa ia buscar no computador de algum internauta a música que você queria. Quanto mais gente se interessasse pelo arquivo, mais tráfego havia. E mais lenta ficava a transmissão. Que não funcionava para arquivos maiores, como filmes. A grande idéia do BitTorrent foi dividir o arquivo em milhares de pedaços. Os diferentes pedaços são enviados simultaneamente para diversos computadores. Cada computador, enquanto recebe os pedaços que lhe faltam, envia os pedaços que tem para os demais. Por isso, ao contrário dos sistemas anteriores (e da lei da oferta e da procura), quanto mais gente quer um arquivo, mais fácil fica consegui-lo. Daí seu nome: uma torrente de bits.
Cohen virou herói. "Give and ye shall receive" ("é dando que se recebe") virou seu slogan, estampado em camisetas que vendia para fãs. Por causa dele, podem-se baixar na rede cópias de filmes, séries de TV, jogos e programas de computador de forma rápida e eficiente. Um capítulo de Lost estréia na TV americana e, poucas horas depois, pode ser baixado por computadores do mundo inteiro. É um grande incentivo à pirataria. Cohen se esquiva. Diz que criou apenas uma ferramenta e não tem responsabilidade sobre seu uso. Ele próprio jamais baixou filmes. Nem precisa. Cohen só gosta de assistir a filmes e séries em DVD. Diz que um de seus programas favoritos é a primeira temporada de The Simple Life, com Paris Hilton. "Você pode assistir a isso por seis horas e seu cérebro continua vazio", afirma.
Na semana passada, Hollywood se rendeu a Cohen. Os estúdios Paramount, MTV Networks, 20th Century Fox e alguns outros menores anunciaram um acordo com o BitTorrent para a distribuição de filmes. Os usuários poderão baixar o filme pelo site de Cohen, comprando-o ou alugando-o, numa versão que se autodestrói depois de algum tempo. Vitória. Mas em alguns blogs Cohen já é tratado como traidor, que se "vendeu ao sistema".


Também eram?
A síndrome de Asperger é considerada uma forma de autismo moderado, de diagnóstico difícil. Hoje, diversas personalidades que se destacaram em suas áreas são apontadas como prováveis portadoras, por sua alta taxa de concentração. Entre eles, o físico Albert Einstein , o pianista Glenn Gould, o filósofo Ludwig Wittgenstein e o cineasta Stanley Kubrick.
 
Guilherme Ravache


da Revista  Época Globo 

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